Novo Medicamento (Pexidartinibe) para o tratamento do Tumor Tenossinovial de Células Gigantes (Sinovite Vilonodular Pigmentada)

Escrito Por: Dr. Reynaldo Jesus-Garcia Filho
Publicado dia: 07/09/2020
Atualizada em: 07/09/2020

Novo Medicamento (Pexidartinibe) para o tratamento do Tumor Tenossinovial de Células Gigantes (Sinovite Vilonodular Pigmentada)

A Sinovite Vilonodular Pigmentada, atualmente chamada de Tumor Tenossinovial de Células Gigantes é um tumor não maligno, de partes moles, raro, que compromete as articulações e causa como sintomas dor, edema, aumento de volume, rigidez, ocasionando a limitação do movimento articular. O tumor acomete a membrana sinovial, a bursa, a capsula articular, os tendões e todas as estruturas peri-articulares, causando a destruição progressiva da cartilagem, formação de cistos subcondrais e a invasão do osso e sangramento articular. Acomete mais frequentemente o joelho, quadril, tornozelo, punho e cotovelo, mas pode aparecer em qualquer articulação ou tendão do corpo. Geralmente acometem apenas uma articulação.

Em grande número de pacientes o tumor só é percebido durante uma cirurgia artroscópica. Nesses casos, o Cirurgião indica o procedimento com um diagnóstico por imagem de “sinovite” e somente toma conhecimento do diagnóstico de Sinovite Vilonodular Pigmentada (TTSCG), quando recebe o anatomopatológico. No entanto, neste momento, já houve durante a cirurgia, a disseminação de fragmentos da membrana sinovial comprometida por todas a cavidade articular. A partir daí, o tumor recidiva inúmeras vezes, sendo praticamente impossível sua ressecção completa.

Há alguns anos o Memorial Sloan Kettering Cancer Center Hospital vem estudando um imunoterápico chamado Pexidartinibe. É um medicamento utilizado por via oral que tem por objetivo bloquear o crescimento do tumor e em alguns pacientes, diminuir seu volume, melhorando os sintomas. Os pacientes avaliados foram selecionados entre aqueles nos quais uma cirurgia traria grande morbidade. No estudo, metade dos pacientes recebeu o pexidartinibe e a outra metade recebeu placebo. A avaliação do tumor foi realizada por ressonância magnética.  A resposta foi avaliada em positiva, quando o tumor diminuiu de tamanho, estável, quando não houve mudança e negativa, quando o tumor piorou durante o tratamento. Além disso foram avaliados o volume do tumor e o grau de movimento da articulação.

Em um período de 24 semanas, os pacientes receberam por via oral pexidartinibe ou placebo. Após as 24 semanas do estudo, os pacientes que haviam recebido placebo, passaram a receber o pexidartinibe.

Os resultados iniciais mostraram que:

  • 53% dos pacientes que receberam o pexidartinibe apresentaram ao menos 30% de redução do tamanho do tumor
  • Nenhum paciente que recebeu placebo apresentou redução de pelo menos 30% do volume do tumor

Alguns efeitos colaterais foram notados, entre eles

  • 83% apresentaram mudança da coloração do cabelo
  • 23% aumentaram aumento da enzima hepática Alanino Amino Transferase
  • 20% apresentaram náusea
  • 17% apresentaram aumento da enzima hepática Aspartato Amino Transferase

Além disso, ocorreram alguns efeitos adversos mais graves:

  • 8 pacientes, apresentaram efeitos colaterais hepáticos sérios, 1 a 2 meses após o término do tratamento (2 se recuperaram em 2 meses, 1 se recuperou após 7 meses, mas precisou de diálise e 1 morreu, devido à problemas cardiovasculares, aparentemente não relacionados ao pexidartinibe).

Conclusão do Estudo

O estudo do MSKCC mostrou que o pexidartinibe pode ser utilizado, para os pacientes portadores de TTSCG (SVNP), diminuindo o volume do tumor e amenizando os sintomas em 83% dos pacientes. A melhor indicação é para os pacientes que já foram submetidos à cirurgia ou para aqueles nos quais a cirurgia ocasionaria morbidade importante. Deve-se alertar o paciente que pode haver efeitos colaterais hepáticos.

Minha Opinião

O pexidartinibe é o primeiro medicamento que mostrou resultados no controle do crescimento e da recidiva do TTSCG (SVNP). Os efeitos colaterais hepáticos são frequentes e importantes e deve-se avaliar o risco-benefício deste tratamento. O tempo ideal de tratamento e a estratégia de manutenção ou interrupção do tratamento ainda precisam ser definidos.

Saliento que os pacientes com TTSCC devem ser diagnosticados precocemente. Nos pacientes com sinovite crônica ou com massas tenosinoviais, indico a biópsia da lesão antes da abordagem cirúrgica da lesão. Nesses casos, quando o diagnóstico anatomopatológico revela um TTSCG, indico o tratamento com o Pexidartinibe neoadjuvante, antes da abordagem cirúrgica do paciente.

Tenho acompanhado casos graves de TTSCG, que são encaminhados para nosso Serviço após várias cirurgias, geralmente com novas recidivas e com importante destruição articular. A sintomatologia desses pacientes, a incapacidade funcional e piora progressiva da qualidade de vida, autorizam o uso deste medicamento.

Referencia: Lancet. 2019 August 10; 394(10197): 478–487. doi:10.1016/S0140-6736(19)30764-0.

 

Figuras: Imagens de uma Ressonância Magnética, ponderada em T1 e T2, onde se evidencia intensa sinovite com grande volume na região anterior do fêmur, progredindo em direção ao joelho, invadindo e destruindo a região epífisária do planalto tibial e progredindo em direção à região posterior da articulação do joelho. Várias cirurgias prévias realizadas não conseguiram controlar a progressão da doença. É um caso em que o Pexidartinibe poderia ser utilizado.

 

 

 

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